Da criança que amava as flores à pesquisadora que busca entender a vida das plantas
Por Maria Aline Soares da Silva
Criada na zona rural, eu sempre tive contato com animais e plantas. Embora para a maioria das crianças os animais fossem mais interessantes, as plantas sempre chamaram minha atenção. "Como que uma coisa que não sai do lugar pode estar viva?" - esse era um dos meus principais questionamentos, que logo uma das minhas professoras do Ensino Fundamental respondeu. E eu não só compreendi que as plantas eram seres vivos, como também "descobri" que elas eram independentes (risos). Pois é: descobri que elas produziam seu próprio alimento e ainda nos ajudavam liberando o ar que respiramos! Era quase impossível não ficar maravilhada com isso.
Com o passar dos anos, meu interesse por Ciências foi aumentando, mas não especificamente pelas plantas. No último ano do Ensino Fundamental, minha turma apresentou um Projeto sobre o Meio Ambiente e meu grupo ficou responsável por falar sobre as Mudanças Climáticas Globais. Foi então que meu foco de interesse saiu das plantas e foi para as Mudanças Climáticas.
Em 2016, finalmente aconteceu: entrei na Universidade. A primeira da família a conquistar esse lugar, que só foi possível devido as políticas públicas que permitiram que a filha de agricultores conseguisse chegar lá. E, depois que eu cheguei, bem vi que era um lugar que eu precisava ocupar e que todos os meus esforços até ali tinham valido a pena.
Os primeiros 3 anos da graduação passaram muito rápido; quando eu menos esperava, já era hora de escrever o TCC. Eu pensei em muitos assuntos que chamavam minha atenção, a maioria voltados para áreas da saúde, mas nada parecia fluir. Até que um professor recém-chegado na UPE entrou na minha sala para ministrar aula de Botânica Sistemática; quando ele se apresentou e falou sua formação e áreas de pesquisa, foi como uma cena de desenho animado onde uma lâmpada acende sobre a cabeça do personagem. Ele seria meu orientador e eu finalmente iria pesquisar sobre plantas e mudanças climáticas. Apresentei a ele minha proposta de pesquisar sobre plantas que seriam bioindicadoras de perturbação. Eu estava bem animada, mas, por questões de tempo, estávamos quase na metade do ano e eu tive que mudar minha ideia. Felizmente, tudo deu certo, mesmo com outro assunto.
Já no final de 2020, em meio a toda a loucura da pandemia, veio a aprovação na seleção de Mestrado e os caminhos para a vida acadêmica estavam abertos novamente.
Minha atual pesquisa em desenvolvimento no Vale do São José tem como foco a plasticidade fenotípica de espécies lenhosas e a associação entre as raízes dessas plantas e fungos micorrízicos arbusculares. Tanto a plasticidade quanto a formação de micorrizas são exemplos conhecidos de mecanismos de defesa, que as plantas apresentam em respostas a estresses ambientais.
A plasticidade fenotípica é a capacidade que alguns seres vivos (principalmente as plantas) têm de modificar o funcionamento do seu organismo em função das condições ambientais. Essas modificações podem ser morfológicas (na estrutura física) ou fisiológicas (no funcionamento do organismo). Essas mudanças podem ser permanentes ou não. Quando permanentes, são chamadas de adaptações. As plantas podem apresentar várias respostas plásticas, uma delas é a área foliar específica, que é menor em plantas em ambientes estressados. Quanto menor a área, menor será a taxa de água que é perdida para o ambiente.
Ao longo da evolução das plantas, elas desenvolveram vários mecanismos para melhor sobrevivência. A exemplo disso, podemos citar a associação entre raízes de plantas e uma classe específica de fungos, chamada de Fungos Micorrízicos Arbusculares. Esses fungos vivem nas raízes das plantas e as ajudam na absorção de água e nutrientes, como o fósforo, através de suas hifas; em troca disso, o fungo se aproveita de carboidratos que a planta produz.
Bom, com esse "pequeno" texto, encerro esta narrativa
tão íntima e tão significativa para mim. Se você não puder guardar tudo o que
eu escrevi, lembre-se apenas que "o tempo passado entre as plantas nunca é
desperdiçado." (Katrina Mayer).
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Maria Aline Soares da Silva
Estudante de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade de Pernambuco - Campus Petrolina (PPGCTA/UPE). Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns. Possui Especialização em Metodologia do Ensino de Biologia e Química pelo Grupo Educacional FAVENI. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de Ecologia e Botânica voltadas para a plasticidade de espécies vegetais da Caatinga.