Educação e eu
Por Israel Oliveira
Minha relação com a educação formal sempre foi algo que me fez querer ir além. Quando criança, ainda no que hoje conhecemos como "alfabetização", eu via meu irmão ir para uma escola diferente, em um lugar diferente, com meus primos e alguns colegas em um pau-de-arara, à noite, e achava tudo isso muito legal. Não ter muitas crianças da minha faixa etária sempre foi algo que me fazia buscar inspiração em meu irmão, primos e outros garotos mais velhos. O ambiente que criava adultos aos 13 anos de idade, que bebiam, iam para festas sozinhos e andavam com facas para intimidar outros grupos de garotos - que por algum motivo não simpatizavam uns com os outros - sempre me pareceu algo destinado, já "certo" para mim.
Ao mudar de escola e, finalmente, ir estudar em outra comunidade, sempre na adrenalina do pau-de-arara, o que parecia algo "certo" para garotos que moram no sítio e se tornam adultos precocemente deu uma pequena destoada. O turno da noite na escola sofreu mudanças e eu fui estudar à tarde. Com isso, consumir bebidas alcoólicas deu lugar ao futebol de rua. Sempre era comum fecharmos a rua da vila para jogar futebol, tanto que, logo no primeiro ano, fomos campeões do campeonato municipal.
A carreira de sempre seguir estudando que eu idealizava passou a dar lugar ao sonho genérico de muitos garotos: ser jogador de futebol. Eu, encorajado pelo treinador do time e outros caras mais velhos, sempre ouvi "esse moleque vai ser um profissional!", "joga muito!"; esses encorajamentos fizeram com que eu começasse a acreditar cada vez mais que aquela carreira fosse algo possível, a ponto de me preparar para uma "peneira" (seleção) de um time de futebol. Infelizmente - ou, talvez, felizmente-, meus pais não me deixaram ir. Mas continuei com meu sonho de ser jogador profissional. Logo que comecei a crescer e ganhar condicionamento físico que pudesse me ajudar, acabei descobrindo uma arritmia, e com isso meu sonho acabou indo embora.
Dessa maneira, acabei por me voltar novamente aos estudos e então comecei a sonhar com o ensino superior. Mesmo, por vezes, parecendo algo bem distante, a inspiração em familiares, amigos e outras pessoas próximas fez com que eu começasse a acreditar nisso cada vez mais. Ao chegar na reta final do ensino médio, lembro da insegurança que senti, o pensamento diário de "o que eu faço agora? ", "e se eu não entrar na universidade?", tanto que, quando consegui, foi algo que me deixou muito feliz. A aprovação no curso de História da UPE me daria o que fazer durante mais quatro anos.
Mesmo com algumas dificuldades por conta de deslocamento, consegui finalizar o curso e saí cheio de esperança de arranjar um trabalho e poder tentar ajudar a construir uma educação mais inclusiva, podendo auxiliar alunos cheios de sonhos a acreditarem em uma realidade melhor. Infelizmente, a pandemia acabou puxando o tapete para todo mundo e nos dando doses diárias de uma realidade pesada, desigual, injusta e que sempre privilegia os já favorecidos. Lembro de chegar realmente a desacreditar da educação e tudo que envolvesse um ensino formalizado.
A decisão de tentar fazer um mestrado e, talvez, conseguir um emprego e voltar a ter esperanças educacionais foi encorajada por amigos e familiares. Depois de algumas tentativas frustradas, enfim veio a aprovação e, com ela, algumas ideias animadoras, após ingressar em um grupo coordenado por minha orientadora, com foco na educação e nas possibilidades de transformação da realidade. Com algumas ideias surgindo, resolvi trabalhar com educação não formal e as possibilidades de formação social através do Hip Hop, algo de certa forma já iniciado na graduação, mas que me tem feito seguir acreditando e lutando por uma realidade menos dolorosa para os não tão privilegiados socialmente.
Ah, quase ia me esquecendo! Nessa minha trajetória acadêmica, comecei a participar do grupo de pesquisa Vale do São José e a compartilhar sonhos, desejos e ideias com amigos que construí durante essa trajetória. As ações de regate animal, soltura e educação ambiental também são motivos que têm me ajudado a seguir acreditando em um mundo um pouquinho melhor. Aprendi que o ambiente acadêmico é bem pesado e às vezes sufocante, mas, com a leveza proporcionada pelas amizades construídas, podemos encontrar algumas "injeções de ânimo" para seguirmos em frente.
Se você leu até aqui,
confesso que há relatos muito pessoais, mas que me construíram durante minha
trajetória educacional e que não teria tanto sentido apenas expor recortes meio
que desconexos (risos). Ah! Obrigado por me deixar compartilhar essas
experiências contigo. Nos vemos na live de domingo, dia 01 de maio, no Instagram @valedosaojose. Forte abraço!

Israel Oliveira
Lattes: https://lattes.cnpq.br/1472423316116690
Mestrando em História pelo programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Alagoas. Possui graduação em História pela Universidade de Pernambuco (UPE) - Campus Garanhuns. Atua com pesquisas nas temáticas História e Música na interface com questões raciais e afro-brasileiras.
