Um professor em construção
Por Izaque Oliveira.
Falar da minha vida sempre me traz muitas reflexões sobre o que planejei e o que simplesmente aconteceu de forma espontânea. Hoje, aos meus 29 anos, sou formado em Geografia pela Universidade de Pernambuco - UPE - e atuo no ensino fundamental do município de Venturosa-PE. Para ser franco, nunca me imaginei ocupando o posto que estou hoje, antes de ingressar na faculdade.
Minha vida educacional teve início na escola municipal André Marques de Miranda (hoje desativada), aos meus 5 anos de idade. Na época, as turmas iam do pré-escolar à 4ª série, todas sob a responsabilidade da professora Maria Aparecida Marques ou, como alguns a chamavam, Tia Cida. Sempre tive uma inclinação a assuntos relacionados ao meio ambiente - acredito que tenha a ver com as descendências familiares, já que, segundo algumas narrativas locais, temos como ancestrais povos indígenas que habitavam a região e, diga-se de passagem, tenho muito orgulho de toda essa herança. Ao finalizar meus primeiros 5 anos de estudos, ingressei no fundamental 2, em 2004. No entanto, meus vínculos com a escolinha continuaram, não mais como aluno, mas sim como acompanhante, pois, dessa vez, quem começava a estudar era meu irmão Israel. A divisão de responsabilidades na época parecia algo comum a alguém que mora na zona rural. As atividades escolares se dividiam entre brincadeiras e afazeres cotidianos, relacionados à pecuária que, até então, era uma das poucas fontes de renda da família.
Aos 13 anos, antes mesmo de terminar o ensino fundamental, tive a oportunidade de experimentar o trabalho no comércio, em uma loja na cidade de Capoeiras-PE. Após finalizar o ensino fundamental, em 2007, ingressei no ensino médio, na cidade de Venturosa, em 2008. Por mais que a tão temida decisão se aproximasse, à medida que o ensino médio chegava próximo ao fim, a possibilidade de me tornar um professor não era levada em consideração. Em 2010, finalizei o ensino médio e permaneci até 2012 sem me dedicar a outras atividades que não fossem as agrárias. Certo dia, meu primo me faz o seguinte convite: "vamos fazer o vestibular da UPE?"; até então, eu nunca havia cogitado a possibilidade, mas, diante do fato de estar sem ter o que fazer no momento, resolvi aceitar, a nível de experiência. Para minha surpresa, consegui ingressar no curso de Geografia. No início, diante de tantas dificuldades, não tive muitas expectativas de concluir o curso, mas os esforços da minha família e amigos não me deixaram desanimar.
Enfim, minha vida acadêmica me aproximou de pessoas que me mostraram formas de ver o mundo que até hoje são essenciais diante das atividades que desenvolvo. Hoje, continuo minha pesquisa iniciada na graduação, buscando aspectos relacionados a atividades agrícolas no local onde resido e desenvolvo outra, junto com alguns membros do grupo de pesquisa Vale do São José, relacionada a aspectos de formação histórica e cultural da comunidade do Grotão, local onde um dia fui aluno e depois retornei como professor.
E, para finalizar, agradeço o tempo que dedicaram para conhecer um pouquinho da minha história. Desde já, muito obrigado!
